Possui graduação em Física pela Universidade de São Paulo (1969), PhD em Meteorologia, University of Wisconsin, Madison (1975), pós-doutorado em Hidrologia de Florestas, Institute of Hydrology, Wallingford, UK (1982) e é fellow do Wissenschftskolleg zu Berlin, Alemanha (1990). É Pesquisador Senior aposentado do INPE/MCT e atualmente Professor Associado da Universidade Federal de Alagoas, professor visitante da Western Michigan University, professor de pós graduação da Universidade de Évora, Portugal. Tem experiência na área de Geociências, com ênfase em Dinamica de Clima, atuando principalmente em variabilidade e mudanças climáticas, Nordeste do Brasil e Amazonia, e nas áreas correlatas energias renováveis, desenvolvimento regional e dessalinização de água. É membro do Grupo Gestor da Comissão de Climatologia, Organização Meteorológica Mundial (MG/CCl/WMO).
QUINTA-FEIRA, JANEIRO 14, 2010
Perguntas e respostas do Prof. Molion (4)
11 - Por falar em energia, quais as fontes o senhor acredita que o Brasil deveria priorizar para assegurar o crescimento da economia previsto para os próximos anos?
R. O Brasil pode explorar mais a hidroelectricidade, pois ainda tem cerca de 70% de seu potencial inexplorado. E o biodiesel, que hoje é feito de óleo de soja, pode ser feito de óleo de palmáceas nativas amazónicas, como buriti, por exemplo, e de dendê (palma africana), que poderia ser plantada para recuperar as terras desmatadas e degradadas na Amazónia. Existem mais de 660 espécies de palmáceas nativas na Amazónia, que é uma verdadeira “Arábia Saudita” verde e renovável, cujos “poços” estão em cima da superfície. Colhem-se apenas os frutos e, no ciclo seguinte, a planta os renova. Particularmente no Nordeste, pode-se utilizar a energia solar abundante na Região, convertendo-a em energia eléctrica por meio de concentradores solares de calha parabólica, por exemplo.
Há preocupacções com cana-de-açúcar e soja, que são plantações extensas, que dependem das condições climáticas que não serão favoráveis nos próximos 20 anos. A actividade solar estará diminuindo nos próximos 22 anos e o Oceano Pacífico, que ocupa 35% da superfície terrestre, estará esfriando nesse mesmo período. Minha hipótese é que estaremos entrando em um resfriamento global e isso é ruim para o Brasil. A última vez que isso ocorreu, entre 1947-1976, choveu menos e disponibilidade hídrica foi menor e a frequência de geadas foi maior nos invernos. Isso, por exemplo, erradicou o cultivo do café no Paraná. Outra preocupação com cultivos extensos é que, actualmente, não trazem benefício social algum. Há que se encontrar uma forma de evitar esse aspecto para beneficiar a população local. Não sou favorável à energia eólica, pois, além de ter sua implantação dispendiosa, não se têm ventos fortes e persistentes no Brasil, adequados para seu aproveitamento. Vento depende de sistemas de altas e baixas pressões atmosféricas, é errático ou caótico, e não pode ser “programado” para soprar no período de pico de consumo, por exemplo, das 18h às 20h.
12 - O que precisa ser mudado no comportamento da indissolúvel relação que o homem mantém com o meio ambiente?
R. A conservação ambiental é condição essencial para sobrevivência da Humanidade. Temos que mudar nossos hábitos de consumo se quisermos que as geracções futuras tenham condições de vida semelhantes às nossas. E isso não tem nada a ver com mudanças climáticas. Aqueça ou esfrie, a conservação ambiental é necessária.
13 - Como o Brasil deveria gerir o uso dos mais diversos recursos naturais disponíveis em nosso território, principalmente na Amazónia? Que investimentos em ciência e tecnologia têm de ser contemplados?
R. A grande riqueza da Amazónia é sua biodiversidade e o desmatamento acaba com essa biodiversidade. Sabe-se muito pouco dessa biodiversidade, particularmente no que concerne a insectos talvez menos de 10%. Existem técnicas de desenvolvimento para a Amazónia que podem ser aplicadas sem que haja destruição. Os investimentos em C&T devem se voltar para esses aspectos de desenvolvimento duradouro, em harmonia com as condições ambientais. Poderia começar, de imediato, com silvicultura (enriquecimento florestal, com espécies de alto valor comercial), sistemas agroflorestais e agrosilvipastoris, extractivismo de alta tecnologia de fármacos (alcalóides, aminoácidos, por exemplo), óleos essenciais, produtos nutricionais (de plantas e animais), que usam e não destroem a floresta. Em um prazo maior, contemplar pesquisas em recuperação de áreas degradadas, óleoquímica de óleos de palmáceas, fitomelhoramento, bioquímica, bioengenharia, entre outras.
14 - A afirmação que 70% das emissões de carbono brasileiras vem da destruição e queimadas na Amazónia está correcta?
R. Não, esse número é exagerado! Isso porque, para se calcular as emissões de CO2, é necessário se conhecer a densidade da biomasssa, ou seja, quantas toneladas de matéria vegetal seca existe por hectare (t/ha). Um número médio, aceite para a Amazónia Brasileira, é 300 t/ha. Entretanto, a área que está sob pressão da agropecuária, o chamado “arco do desmatamento”, é uma floresta de transição que é submetida a um período de baixa precipitação pluviométrica, estendendo-se de4 a 6 meses. Nessas áreas, a densidade de biomassa é menor, possivelmente entre 100 t/ha e 150 t/ha e, portanto, mesmo que se considere a libertação de 100% do carbono na queima, o que de facto não ocorre, ainda assim as emissões de carbono na fronteira agrícola seriam da ordem de 50% a 60% menor que as estimadas actualmente. É desnecessário enfatizar que há necessidade de se diminuir o desmatamento, não só por conta da fantástica biodiversidade existente na região, como também pelo facto de o maior impacto do desmatamento ser a erosão, que degrada os solos já pobres, em média, assoreia os rios, muda a qualidade da água e da vida aquática, além de mudar seus regimes hidrológicos.
15 - Outras consideracções importantes ?
R. O homem não tem condições de mudar o clima global, mas tem grande capacidade de modificar/destruir seu ambiente local. A Terra tem 71% de oceanos e 29% de continentes. Desses 29%, metade é constituída de gelo (geleiras) e areia (desertos). Do restante,7 a 8% estão cobertos com florestas nativas e plantadas. O homem manipula, então, cerca de 7% da superfície global e, portanto, não pode destruir o mundo. Os oceanos, juntamente com a actividade solar, são os principais controladores do clima global. Mas, existem outros controladores externos, como aerossóis vulcânicos e, possivelmente, raios cósmicos galácticos que podem interferir na cobertura de nuvens. Em resumo, o clima da Terra não é resultante apenas do efeito-estufa ou do CO2 e sua concentração. Ele é um produto de tudo que ocorre no Universo e que interage com nosso Planeta. Como foi dito, a conservação ambiental é independente de mudanças climáticas e é necessária para a sobrevivência da Humanidade.
R. O Brasil pode explorar mais a hidroelectricidade, pois ainda tem cerca de 70% de seu potencial inexplorado. E o biodiesel, que hoje é feito de óleo de soja, pode ser feito de óleo de palmáceas nativas amazónicas, como buriti, por exemplo, e de dendê (palma africana), que poderia ser plantada para recuperar as terras desmatadas e degradadas na Amazónia. Existem mais de 660 espécies de palmáceas nativas na Amazónia, que é uma verdadeira “Arábia Saudita” verde e renovável, cujos “poços” estão em cima da superfície. Colhem-se apenas os frutos e, no ciclo seguinte, a planta os renova. Particularmente no Nordeste, pode-se utilizar a energia solar abundante na Região, convertendo-a em energia eléctrica por meio de concentradores solares de calha parabólica, por exemplo.
Há preocupacções com cana-de-açúcar e soja, que são plantações extensas, que dependem das condições climáticas que não serão favoráveis nos próximos 20 anos. A actividade solar estará diminuindo nos próximos 22 anos e o Oceano Pacífico, que ocupa 35% da superfície terrestre, estará esfriando nesse mesmo período. Minha hipótese é que estaremos entrando em um resfriamento global e isso é ruim para o Brasil. A última vez que isso ocorreu, entre 1947-1976, choveu menos e disponibilidade hídrica foi menor e a frequência de geadas foi maior nos invernos. Isso, por exemplo, erradicou o cultivo do café no Paraná. Outra preocupação com cultivos extensos é que, actualmente, não trazem benefício social algum. Há que se encontrar uma forma de evitar esse aspecto para beneficiar a população local. Não sou favorável à energia eólica, pois, além de ter sua implantação dispendiosa, não se têm ventos fortes e persistentes no Brasil, adequados para seu aproveitamento. Vento depende de sistemas de altas e baixas pressões atmosféricas, é errático ou caótico, e não pode ser “programado” para soprar no período de pico de consumo, por exemplo, das 18h às 20h.
12 - O que precisa ser mudado no comportamento da indissolúvel relação que o homem mantém com o meio ambiente?
R. A conservação ambiental é condição essencial para sobrevivência da Humanidade. Temos que mudar nossos hábitos de consumo se quisermos que as geracções futuras tenham condições de vida semelhantes às nossas. E isso não tem nada a ver com mudanças climáticas. Aqueça ou esfrie, a conservação ambiental é necessária.
13 - Como o Brasil deveria gerir o uso dos mais diversos recursos naturais disponíveis em nosso território, principalmente na Amazónia? Que investimentos em ciência e tecnologia têm de ser contemplados?
R. A grande riqueza da Amazónia é sua biodiversidade e o desmatamento acaba com essa biodiversidade. Sabe-se muito pouco dessa biodiversidade, particularmente no que concerne a insectos talvez menos de 10%. Existem técnicas de desenvolvimento para a Amazónia que podem ser aplicadas sem que haja destruição. Os investimentos em C&T devem se voltar para esses aspectos de desenvolvimento duradouro, em harmonia com as condições ambientais. Poderia começar, de imediato, com silvicultura (enriquecimento florestal, com espécies de alto valor comercial), sistemas agroflorestais e agrosilvipastoris, extractivismo de alta tecnologia de fármacos (alcalóides, aminoácidos, por exemplo), óleos essenciais, produtos nutricionais (de plantas e animais), que usam e não destroem a floresta. Em um prazo maior, contemplar pesquisas em recuperação de áreas degradadas, óleoquímica de óleos de palmáceas, fitomelhoramento, bioquímica, bioengenharia, entre outras.
14 - A afirmação que 70% das emissões de carbono brasileiras vem da destruição e queimadas na Amazónia está correcta?
R. Não, esse número é exagerado! Isso porque, para se calcular as emissões de CO2, é necessário se conhecer a densidade da biomasssa, ou seja, quantas toneladas de matéria vegetal seca existe por hectare (t/ha). Um número médio, aceite para a Amazónia Brasileira, é 300 t/ha. Entretanto, a área que está sob pressão da agropecuária, o chamado “arco do desmatamento”, é uma floresta de transição que é submetida a um período de baixa precipitação pluviométrica, estendendo-se de
15 - Outras consideracções importantes ?
R. O homem não tem condições de mudar o clima global, mas tem grande capacidade de modificar/destruir seu ambiente local. A Terra tem 71% de oceanos e 29% de continentes. Desses 29%, metade é constituída de gelo (geleiras) e areia (desertos). Do restante,
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