sexta-feira, 22 de junho de 2012

0248 - Rio+20: luz no fim do túnel do radicalismo “verde"


Por: Editoria do Site Alerta em Rede

22 de junho de 2012

Em meio à babel de manifestações e interpretações da multiplicidade de atores interessados nos resultados da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), uma constatação fundamental pode ser destacada: um aparente esgotamento da influência do discurso radical do ambientalismo, que coloca a proteção física do meio ambiente como o elemento central de organização das sociedades humanas. Tal fato pode ser constatado, tanto no enfoque geral da redação do documento oficial da conferência, que privilegia a erradicação das mazelas humanas sobre as restrições ambientais, como pelas reações fortemente negativas das lideranças ambientalistas ao documento e, não menos, pela inusitada visibilidade pública que tem sido conferida aos críticos dos cenários alarmistas sobre as mudanças climáticas, um dos carros-chefe da agenda “verde” global.

De um modo geral, tem-se a impressão de que a incompatibilidade intrínseca da agenda ambientalista com as aspirações de desenvolvimento e progresso de cada país, especialmente as economias emergentes e os mais atrasados, bem como com os requisitos para um enfrentamento sério da crise econômico-financeira global, está começando a se fazer percebida de forma mais marcante entre as lideranças políticas. Até agora, como muitos acordos já foram assinados e muitos investimentos já foram feitos em torno das pautas ambientais, nas últimas décadas, ainda são raras as lideranças que se atrevem a contestar publicamente este ou aquele aspecto dessa agenda de âmbito global, devido ao compreensível receio da impopularidade pública de tais posições. Não obstante, as acirradas disputas travadas em torno da redação do documento oficial da conferência, intitulado O futuro que queremos, e o seu formato final – superficial e, em última análise, inaplicável – sugerem que, aos poucos, os requisitos socioeconômicos e políticos do mundo real estão se impondo às concessões “politicamente corretas” que têm sido feitas ao ambientalismo.

De início, um documento político com 283 artigos, como o texto aprovado, não pode ter qualquer pretensão de utilidade prática para a formulação de políticas, principalmente, em escala mundial. Ainda assim, ao estabelecer, de início, a erradicação da pobreza e da fome como “o maior desafio global no mundo” e “uma exigência indispensável para o desenvolvimento sustentável”, o memorando retoma uma orientação análoga à posição dos países em desenvolvimento na Conferência de Estocolmo, em 1972, o primeiro grande evento que introduziu a temática ambiental nas relações internacionais. Em particular, a diplomacia brasileira retoma, em parte, as posições manifestadas naquela época, quando se afirmava, com propriedade, que a pior poluição era – e continua sendo – a da miséria.

Uma oportuna manifestação em favor dessa reorientação foi proporcionada pela subsecretária de Planejamento e Política Ambiental do Ministério do Planejamento da Argentina, Silvia Revora, em uma entrevista à revista Veintitrés de 20 de junho. Em tom contundente, ela qualificou o conceito de “economia verde” como uma “armadilha” das nações desenvolvidas e rejeitou qualquer proposta de “governança global” para políticas ambientais. “O nosso conceito de desenvolvimento sustentável implica na distribuição de riqueza e inclui todo o espectro de políticas sociais, econômicas e ambientais definidas por um país. É por isso que dizemos ‘não’ à imposição de uma economia verde, e ‘sim’ ao desenvolvimento soberano, no qual nós controlamos os nossos recursos com base na nossa realidade”, disse ela.

Sem citar nomes, a subsecretária advertiu, ainda, que várias nações do Hemisfério Norte pretendem obstruir os avanços dos países em desenvolvimento, por meio de subterfúgios como a imposição de taxas sobre as emissões de carbono ou de certificações dos índices de carbono envolvidos na produção de certos bens.

Uma medida dessa inflexão de percepção pode ser avaliada pelas reações furiosas do aparato ambientalista, que contava sair do Rio com um documento que estabelecesse metas objetivas e de adoção impositiva, em especial, quanto à redução do uso dos combustíveis fósseis, de modo a promover a propalada “economia de baixo carbono”.

O diretor-geral do WWF International, Jim Leape, assim definiu o documento final aprovado pelos negociadores: “É patético. É assustador. Se este se tornar o texto final, o ano que se passou [discutindo-o] terá sido uma colossal perda de tempo. Olhando de fora, você tem que rir (The Times, 20/06/2012).”

A ONG Friends of the Earth o rotulou, simplesmente, como “um fracasso épico”.

Previsivelmente, a reação mais inflamada veio do Greenpeace International, cujo diretor-executivo, Kumi Naidoo, afirmou que o desfecho não deixa outra opção, se não a de planejar ações de desobediência civil: “Temos que nos perguntar o que a história nos ensina sobre como as mudanças ocorrem, quando a humanidade se viu confrontada com um grande desafio, como os direitos civis, o apartheid ou a escravidão. É somente quando homens e mulheres decentes dizem basta, chega, e nós estamos preparados para colocar em risco as nossas vidas e ir para a prisão, se necessário… Temos que intensificar a desobediência civil (The Guardian, 19/06/2012).”

A ameaça sugere que, no futuro imediato, esse aparato internacional poderá apelar para uma escalada de “ações diretas”, como as comumente praticadas pelo próprio Greenpeace e outras ONGs que compoem as “tropas de choque” do movimento ambientalista, mas, também, com ações de caráter “ecoterrorista”, com sérios riscos de impactos letais, ao estilo das praticadas pelo terrorista Unabomber e por grupos ultrarradicais como o Earth First!, criado nos EUA, mas atualmente representado em vários países de todos os continentes.

Por outro lado, uma importante evidência do enfraquecimento do discurso ambientalista é proporcionada pelas contestações crescentes ao cenário “aquecimentista” prevalecente nas discussões e políticas sobre mudanças climáticas, o que se verifica pelo destaque midiático que vem sendo dado aos opositores do chamado aquecimento global antropogênico. A tendência, que já se verificava em alguns países do Hemisfério Norte, parece ter chegado ao Brasil, a julgar pelo destaque que jornais e redes de televisão têm dado ao assunto, nas últimas semanas.

Em síntese, atingiu-se um ponto de inflexão. A inércia da influência ambientalista ainda é forte o suficiente para assegurar que o impulso “verde” persista por um bom tempo, como se depreende da adoção e repetição generalizada de conceitos mal definidos como a “sustentabilidade” e a “economia verde”, em virtualmente todas as áreas de atividades humanas, empresariais inclusive. Entretanto, pela primeira vez, em décadas, pode-se perceber um aumento firme de uma percepção mais sóbria sobre os exageros do discurso ambientalista tradicional e os problemas da agenda favorecida pelos “verdes”, sobretudo, os altos custos e a inviabilidade tecnológica de muitas das alternativas propostas, como a “descarbonização” da base energética da economia mundial. Assim, a Rio+20 poderá acabar sendo uma luz no fim do túnel para esse obscurantismo, que tantos prejuízos tem causado à Humanidade.


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